O plantio de algodão é uma das atividades mais rentáveis dentro do setor primário e Roraima tem potencial para o desenvolvimento da cultura
O evento reuniu pesquisadores, especialistas e empresários do setor primário que já investem no algodão e outros que desejam investir
O cultivo de algodão é uma das atividades mais rentáveis no setor primário. Onde há plantio dessa cultura, também há desenvolvimento econômico. Pensando em fomentar essa atividade em Roraima, a Seapa (Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento) promoveu nesta terça-feira, dia 15, o 1º Workshop da Cadeia Produtiva do Algodão.
Com uma programação vasta que inclui especialistas que tratam desde o plantio até a comercialização, o evento contou com a presença de empresários do setor agropecuário, autoridades e do governador Antonio Denarium. O chefe do Executivo frisou que o Governo do Estado não tem medido esforços para atrair investidores, proporcionando o desenvolvimento econômico.
“Nossa vocação é o setor primário, a pecuária, o plantio de grãos e o algodão é uma cultura que requer um alto investimento, mas o retorno também é alto. Temos atrativos em Roraima, nossas terras ainda são baratas e também temos condições climáticas e geográficas favoráveis. Temos que trabalhar para fortalecer este setor com emissão de licenças e tudo o que estiver ao alcance do Governo do Estado para destravar esse desenvolvimento”, declarou.
Além da realização do workshop, a Seapa também trabalha de outras formas a introdução da cultura do algodão em Roraima. O titular da pasta, Emerson Baú, afirmou que, em parceria com o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), os técnicos fazem uma série de estudos e análises de produção.
“A Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária] também é muito importante nesse processo de estudos. Temos aqui hoje o doutor Paulo Barroso, que foi um dos responsáveis pela liberação do algodão aqui na Amazônia. A Seapa hoje está nesse papel de demonstrar a importância e a estratégia dessa cultura para Roraima”, disse Baú.
Trabalho de pesquisador da Embrapa possibilitou o plantio de algodão transgênico em Roraima
Até o ano de 2014, Roraima estava localizado em uma zona de exclusão de algodão transgênico. Como no Brasil a maioria dos cultivares é transgênica, isso praticamente impedia Roraima de plantar algodão. Para reverter esse quadro, o pesquisador da Embrapa, Paulo Barroso, iniciou um estudo para comprovar que a atividade não causaria nenhum tipo de dano ou prejuízo ao meio ambiente.
“Atuei como facilitador. Produzi um documento para que se autorizasse Roraima a produzir algodão. O Estado ficava dentro de uma zona de exclusão de algodão transgênico, que foi criada pelo órgão do Governo Federal responsável pela liberação comercial de transgênicos no Brasil. Eu fui chamado pelos produtores dessa cadeia e eles pediram o auxilio da Embrapa para resolver esse problema”, explicou.
A Embrapa produziu um documento e apresentou à CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) que avaliou e autorizou o plantio de algodão transgênico em Roraima. “As condições de Roraima são, sim, adequadas para o plantio de transgênico e não traria nenhum tipo de prejuízo a quem quer que fosse ou ao meio ambiente o cultivo intensivo de algodão aqui no Estado”, pontuou Barroso.
Pioneiro no plantio de algodão em Roraima ressalta empenho do Governo em buscar desenvolvimento
O pioneiro no plantio de algodão em Roraima, Afrânio Webber, ressaltou a importância do Workshop. Para ele, a presença de consultores, técnicos e associações, é fundamental para tirar as dúvidas de quem deseja investir na cultura em Roraima. “É uma coisa muito boa que está acontecendo. As pessoas que estão aqui hoje são de credibilidade incontestável e estão trazendo mais essa alternativa”, afirmou.
Até a safra de 2018, Webber foi o único empresário do setor que arriscou investir no plantio de algodão em Roraima. Acreditando no potencial da cultura, ele começou em 2014 em uma área de 90 hectares. Na safra seguinte, em 2016, ele passou para 750 hectares e na última, em 2018, foram 1 mil hectares. A expectativa para a próxima safra é subir para 1,5 mil hectares.
“Em 2020, contando comigo, teremos oito produtores investindo no plantio de algodão em Roraima. A expectativa é que juntos alcancemos a marca de 6 mil hectares. Assim como na soja, pretendemos avançar a cada ano”, anunciou o empresário.
Especialista afirma que Roraima tem potencial para o plantio de algodão
O primeiro palestrante do Workshop, o consultor especialista em algodão Eleuisio Curvelo, falou sobre os sistemas de produção adequados para a produção de algodão no cerrado (conhecido no Estado como lavrado) de Roraima. Ele tem experiência nesse tipo de plantio em todos os estados onde a vegetação de cerrado é predominante.
“Vamos passar um pouco da nossa experiência, mostrando como o produtor tem que entrar de maneira a ter boa produtividade, bom lucro, o sistema de produção de algodão como um todo e todas as suas etapas. E o cerrado é a vegetação ideal para essa atividade devido a questões climáticas de luminosidade, entre outros fatores”, disse.
Para uma possível safra em 2020, ele ressaltou que o Estado tem uma área de 6 mil hectares em potencial, uma vez que o cultivo de algodão não pode ser utilizado para abertura de áreas, ou seja, é necessário que outras culturas, como a pecuária e a soja, tenham sido executadas antes.
“O algodão vai sempre acompanhando a soja e a integração lavoura-pecuária. O algodão não abre área, quem abre área é arroz, soja e gado. Geralmente, o algodão entra depois de cinco anos desses outros cultivos. O potencial em curto prazo seria de 6 mil hectares, a médio e longo prazo seria 100 mil hectares”, pontuou.
Curvelo também ressaltou algumas das vantagens que podem ser aproveitadas com o cultivo de algodão. A primeira delas é o alongamento do crédito. Quem tira crédito para algodão tem um prazo de um ano, em outras culturas esse prazo é de seis meses. O segundo é que todas as áreas que plantam algodão no Brasil são valorizadas, podendo cada hectare custar o preço de até 300 sacas de soja.
“As terras em Roraima valem em torno de 50 sacas, então, ainda é muito barata e a entrada do algodão vai valorizar as terras. A terceira oportunidade é que o algodão é uma cadeia completa que vai do plantio até a roupa pronta. O Estado, à medida que o algodão for se implantando, pode aproveitar outros segmentos industriais como a fiação, tecelagem, confecção e assim por diante”, explicou.
ISAQUE SANTIAGO Foto: Fernando Oliveira |