





O estudo de viabilidade econômica da obra de pavimentação da rodovia que liga a cidade de Lethem, na fronteira do Brasil, à Linden, cidade a 108 km de Georgetown, capital da Guiana, concluiu que a implantação do projeto possibilitará economia de tempo para empresários brasileiros – que hoje utilizam os portos da região Sudeste, além da aproximação dos estados do Norte do Brasil com os mercados do Caribe e da Europa. Por outro lado, abrirá mercados em expansão, como o de Roraima e do Amazonas, para os guianenses. A apresentação aconteceu na manhã de quarta-feira, 16, em Georgetown, para uma plateia formada por empresários guianenses de diversos setores e para uma comitiva de brasileiros que contou com a presença de deputados estaduais de Roraima, um deputado federal, empresários, produtores e representantes dos governos estadual e federal. O levantamento foi realizado pela empresa alemã HPC, contratada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). No projeto, além da estrada está a construção de um porto de águas profundas. A apresentação findou com a conclusão, por parte da empresa HPC, de que é preciso interesse por parte dos governos brasileiro e guianense no investimento, já que a viabilidade está comprovada.
Estrada – A comitiva saiu de Boa Vista na segunda-feira, 13, com o objetivo de avaliar as condições da estrada que liga os dois países. Foram mais de 400 km sem pavimentação e com pouca condição para o tráfego. Em um dos trechos é preciso atravessar o rio Kurupukari numa balsa que cabem 10 veículos. Todas as pontes são de madeira e a viagem durou aproximadamente de 12 horas. O presidente em exercício da Assembleia Legislativa de Roraima, deputado Coronel Chagas (PRTB) explicou que a estrada viabiliza a venda da produção agrícola do Estado para outros mercados. “Roraima já produz grãos em larga escala. Produzimos este ano mais de 65 mil toneladas e a projeção para 2017 é de mais de 160 mil toneladas de grãos. E esta produção é para exportação e nós temos que buscar alternativas para escoar esta produção para o exterior e uma delas é através da Guiana”, disse.
Investimentos – Em Georgetown, os deputados foram recebidos na embaixada brasileira por representantes da estatal Go Invest, responsável por arregimentar investidores para Guiana e ainda pelo vice-ministro da agricultura George Jervis, que se disponibilizou em promover parcerias que beneficiem produtores dos dois países. Ele explicou que a Guiana tem muita terra para plantio e criação de animais e que o governo possui programas de incentivo ao desenvolvimento destas áreas. Jervis falou ainda que o país está trabalhando para erradicação de pragas como a mosca da carambola. “Começamos um programa de erradicação da mosca há 15 anos em Lethem, e há dois anos trabalhamos em parceria com o Brasil para o monitoramento da praga”, explicou. A comitiva também esteve reunida com diretores da empresa John Fernandes, que opera um dos portos mais movimentados do país e ainda atua em áreas como a criação de aves. A ideia dos deputados é incentivar empresas guianenses a adquirir a produção agrícola roraimense, como a soja e o milho. Para o executivo da empresa, a iniciativa privada deve iniciar o intercâmbio mesmo sem a pavimentação da estrada e dessa forma mostrar ao poder público à relevância da obra. “Eu espero que não seja apenas uma conversa e sim que avancemos em nossos investimentos. Podemos inclusive sacrificar alguns veículos para iniciarmos essa relação”, concluiu David Fernandes. O diretor do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte), Pedro Christ, que fez parte da comitiva, ressaltou que o governo brasileiro está trabalhando na estrada que liga Boa Vista ao Bonfim, justamente vislumbrando uma aproximação com o país. “O Governo Federal está agora investindo na rodovia 401, que liga Boa Vista a fronteira com a Guiana”, comentou. O presidente da Comissão de Agricultura da Assembleia, deputado Zé Galeto (PRP), disse que vê na Guiana uma alternativa para o escoamento da produção de grãos e de carne bovina. “Esta foi uma mobilização nunca vista em nosso Estado. Tenho certeza que junto com essa estrada, virá desenvolvimento para o setor agrícola de Roraima”, comentou. O empresário e agropecuarista Antônio Denário concordou. Segundo ele, mais de 30% da carne produzida no Estado é exportada. “A Guiana seria um grande e provável cliente importador de grãos do Brasil e com o asfaltamento da estrada a produção pode chegar ao porto com custo menor para exportarmos nossos produtos. Nós produzimos carne bovina acima do que o mercado local consome e nós temos interesse em exportar o excesso de produção”, informou.
Balanço – Além da agricultura, os deputados puderam ainda vislumbrar parcerias em diversas áreas como Educação e Tecnologia. Para o deputado Joaquim Ruiz (PTN), estreitar os laços com o país vizinho pode provocar o intercâmbio de estudantes em cursos de áreas que Roraima é carente. “A introdução da Guiana entre os países exportadores de petróleo abre um leque de oportunidades para os nossos estudantes. Acordos entre as universidades roraimenses e as universidades da Guiana pra que façamos intercâmbio nas áreas da Medicina e das Engenharias como de petróleo e mecânica”, ressaltou lembrando que a Guiana descobriu grande quantidade de petróleo em seu território. A presidente da Comissão de Educação da Assembleia, deputada Lenir Rodrigues (PPS) endossou. “O mais importante é enfrentarmos o empecilho da língua, e isso pode ser fortalecido com a escola de fronteira no Bonfim, o único município da América Latina com fronteira com língua inglesa, então é necessário que os órgãos se unam para vencer essa barreira”, opinou. Os deputados Masamy Eda (PMDB), Chico Mozart (PRP) e Gabriel Picanço (PRB) fizeram um balanço do encontro e acreditam que os primeiros passos para o objetivo que é o desenvolvimento do Estado de Roraima por meio do agronegócio, foram dados. “Nós em Roraima temos que incentivar o interesse dos governos da Guiana e do Brasil e dos empresários, pois Roraima será o principal beneficiado por causa da proximidade. Em vez de irmos pro sul do país pra exportar nossos produtos, traremos em curto espaço de tempo pra Guiana”, disse Picanço. “Nós vimos as condições da estrada, a dificuldade, e ao mesmo tempo vimos a necessidade dela para a ligação entre os países. Podemos fazer uma parceria para ampliar nossa produção e ainda beneficiar a Guiana. Há um caminho estendido para o desenvolvimento de Roraima”, acredita Eda. “Muito importante essa visita in loco por que nós podemos conhecer de perto a logística de trabalho, as riquezas do país. Tanto o porto quanto a estrada trarão benefícios para ambos os países”, finalizou Mozart.
Camila Dall’Agnol SupCom ALE-RR
fotos:Weliton Nunes