Em livro de estreia, escritora conta as memórias afetivas da infância no exílio
Na década de 1970, o Brasil atravessava uma ditadura
militar que impedia famílias inteiras de viverem em
plena liberdade. Do outro lado do Atlântico,
Moçambique alcançava a sua independência política,
implementando mudanças sociais significativas. É
nesse cenário que se passa a história de Lila, uma
criança brasileira que viveu a infância com os pais e os
irmãos em Moçambique.
As únicas notícias que chegavam do Brasil vinham por
cartas de parentes e serviam para matar a saudade do
que nunca havia visto. Mesmo assim, Lila vive uma infância alegre entre
brincadeiras, amizades, soldados e uma culinária que deixaram boas lembranças,
compartilhadas no livro.
Lila em Moçambique marca a estreia de Andreia Prestes na literatura infantil e está
sendo publicado pela editora Quase Oito. Historiadora de formação, a escritora
nasceu no exílio de seus pais, e é neta de dois ativistas políticos: Luis Carlos Prestes e
João Massena. As memórias afetivas de Andreia Prestes, que estavam adormecidas,
despertaram em 2017, quando ela decidiu visitar Moçambique, 30 anos depois do seu
retorno definitivo ao Brasil. Após rever a escola onde aprendeu a escrever as
primeiras palavras em português, o Mercado Municipal onde seus pais compravam
frutas como a massala e a tsintsiva e o prédio “33 andares”, onde morou com a
família, surgiu a necessidade de contar para as crianças algumas histórias daquele
período, para que possam desde cedo, perceber que o melhor presente que se pode ter
na vida é a liberdade.
“A literatura nos ajuda a entender melhor o mundo em que vivemos, a nos
colocarmos no lugar do outro, termos mais empatia e viajarmos sem sair de casa.
Moçambique nos ensinou muito e gostaria de passar essa experiência para quem não
conhece esse país africano.”
Com ilustrações do Camilo Martins, que refletem a alegria da cidade africana de
Maputo, o livro está à venda no site da editora Quase Oito. O lançamento estava
programado para acontecer em abril, mas por conta da pandemia e da impossibilidade
de realizar encontros presenciais, a autora criou um perfil no Instagram, onde
conversa com outros escritores sobre memórias afetivas e como elas influenciam a
criação de novas obras. Segundo Andreia, a literatura tem um papel importante nesse
momento de isolamento social, ela possibilita o encontro com a arte, com a
imaginação.