
O novo reitor da Universidade Federal de Roraima José Geraldo Ticianeli, de 51 anos, disse ao G1 nessa quinta-feira (12) que a prioridade da gestão é regularizar a Fundação Ajuri, para arrecadar recursos financeiros que devem servir de apoio no desenvolvimento da instituição. Para os próximos quatro anos ele quer fortalecer o ensino, pesquisa e extensão.
Professor do curso de medicina, Ticianeli tomou posse no Ministério da Educação (MEC) em Brasília nessa terça-feira (10) para a gestão 2020-2024. Ele assume o cargo no lugar do professor Jefferson Fernandes. Na próxima semana, a equipe do reitor vai estudar a situação da Fundação Ajuri.
“A universidade vai ser bem gerida com respeito aos recursos públicos e aos servidores e, principalmente, com respeito a nossa história. Há 30 anos estamos transformando este estado e isto com certeza vai continuar.”
“Qualquer instituição vive de parcerias. A UFRR não tem autonomia para executar muitas coisas, quem tem autonomia é a nossa Fundação. Precisamos readequá-la, pois através da Ajuri os recursos, tanto públicos quanto privados, podem ser reinvestidos na universidade”, pontuou.
Durante a campanha, Ticianeli se posicionou contra o “Future-se”, projeto que mantém o orçamento anual das universidades aprovado pelo congresso, mas altera leis para permitir outras formas de captar dinheiros, incluindo a possibilidade de contratação de organizações sociais.
“Quando dei o meu parecer sobre o ‘Future-se’ foi como candidato e conselheiro universitário. O projeto tinha itens que eram preocupantes para a autonomia da universidade, tanto financeira, quanto de gestão. Ele foi modificado, mas hoje, como reitor, não me cabe mais opinar, mas sim respeitar a decisão que a comunidade determinar.”
Os desafios imediatos que o novo reitor precisa lidar são o de colocar em funcionamento o Restaurante Universitário, que está fechado em razão de não ter empresa contratada para fornecer alimentação aos estudantes e a regularização do transporte escolar após um ônibus ter sido interditado pela PRF.
“O processo licitatório [para o restaurante] está quase acontecendo, mas ainda precisa de um certo empenho da empresa e vai demorar um pouco”, disse o reitor. Ele estima que a situação deve se prolongar até abril em razão dos trâmites burocráticos.
Em relação aos ônibus, a UFRR já contatou a empresa responsável para que os problemas sejam sanados, principalmente em relação ao conserto do aparelho que indica e registra a velocidade e distância percorrida pelo veículo.
O novo reitor ingressou na UFRR como professor em 5 de julho de 2016. Ele já atuou como avaliador de cursos do MEC por uma década e trabalhou por 15 anos em uma faculdade privada, onde atuou como professor e diretor.
“Nessa faculdade eu assumi um protagonismo e começaram a achar que eu era dono, o que não é verdade. Esta é uma experiência que eu me honro muito porque me deu a bagagem para estar aqui hoje”, explicou. “Nunca fui sócio dessa empresa e a Receita Federal está aí para provar.”
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Ticianeli durante posse em Brasília — Foto: Divulgação/UFRR
Quadro de profissionais e orçamento
De acordo com o novo reitor, existe a possibilidade de que concursos públicos sejam realizados pela instituição ainda neste ano. O orçamento para 2020 da UFRR é de cerca de R$ 240 milhões e estão previstas 25 novas vagas para nível superior, sete para educação básica e sete para técnico administrativo.
No entanto, em fevereiro, O MEC emitiu recomendação aos institutos e universidades federais para suspender novas contratações e aumento de despesas com os servidores. Ticianeli acredita que deve haver suplementação nos próximos meses, o que permitirá que os concursos sejam realizados.
“Vamos deixar tudo pronto para o concurso e quando a suplementação ocorrer, faremos as adequações, mas para cursos que realmente estão precisando de professores.”
Ticianeli declarou que há recomendação para que não sejam contratados novos professores substitutos ou visitantes nos próximos meses. Disse ainda que não há ordem para novos cortes, mas para que haja equilíbrio nas contas.
As bolsas de pesquisa Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e auxílios financeiros para refeição, transporte e moradia não devem sofrer alteração, pois não fazem parte do orçamento previsto para despesas da UFRR, de acordo com o novo reitor.
Uma usina fotovoltaica para reduzir as contas de energia da instituição foi uma das principais promessas de campanha. O reitor afirmou que o MEC disponibilizou R$ 1,750 milhão para implantar as usinas nos três campi da UFRR.
“Precisamos desenvolver o projeto básico e solicitar o recurso que já está disponível e logo será enviado para nós. Até o final do ano teremos boas novidades para UFRR”, disse.
A segurança dos alunos no campus Paricarana deve ganhar um reforço com câmeras e uma sala de monitoramento, contou Ticianeli.
“Estamos conversando com uma empresa para instalar câmeras. Vamos abrir um processo licitatório e criar uma sala de monitoramento”, afirmou.
Incentivos para alunos
Ticianeli afirmou que deve trabalhar formas de manter alunos nos cursos e reduzir a evasão na UFRR. Entre 2018 e 2019, o índice de alunos que abandonaram a instituição chegou a 16%.
O novo reitor afirmou que pretende fomentar auxílios para que alunos não precisem trabalhar em horários que se chocam com os períodos de aulas, além de fazer parcerias com órgãos públicos para mostrar aos alunos possibilidades de trabalhos na área em que estão estudando.
“Outra coisa é o nivelamento. A acessibilidade não é só física, ela é metodológica, pedagógica e digital. Há alunos que não defendem o TCC porque travam e, muitas vezes, o professor não tem sensibilidade ou capacidade para entender que somos diferentes”, pontuou.
Para o novo reitor, a saída é entender as diferenças, desde a formação no ensino médio por onde os alunos passaram ou outras limitações intelectuais para fazer com que os professores trabalhem as especificidades em sala de aula.
Extensão
Um dos três pilares da instituição deve ter foco especial para orientar os acadêmicos nas profissões escolhidas e aproximar a população exterior da universidade. Ticianeli acredita que a universidade deve cumprir um “papel social como agente transformador da sociedade”.
“Isso se faz através de projetos de extensão. Também através da interiorização, que não se faz só por meio da graduação, mas de cursos de capacitação, extensão e internato da medicina, que são projetos que atendem a uma demanda social e tem retorno”, declarou.
Um dos exemplos, de acordo com o reitor, é o investimento de R$ 1 milhão em uma policlínica. Ele também pretende usar a Rádio e TV Universitária para apresentar o que se produz na UFRR para o grande público.
“A Rádio e TV Universitária é um grande laboratório do nosso curso de jornalismo e não pode haver um abismo entre ambos. Queremos que trabalhem integrados até com o coordenação de comunicação.”
A UFRR oferta 43 cursos de graduação e oferece ensino médio, técnico e tecnólogo nos campi Paricarana, Cauamé e Murupu. A instituição dispõe ainda de oito mestrados acadêmicos e dois profissionais, um doutorado próprio, três interinstitucionais e um em rede.
Fonte: Por Fabrício Araújo e Valéria Oliveira / G1 RR