Segundo a entidade, o retorno do servidor decorre do bom desempenho apresentado na sua gestão e do conhecimento sobre a fundação
Cerca de um mês após o general do Exército Franklimberg Ribeiro de Freitas reassumir a presidência da Fundação Nacional do Índio (Funai), Bruno Rebello foi nomeado coordenador-geral de tecnologia do órgão. No último dia 7 de março, o servidor voltou ao cargo, que já havia ocupado durante a primeira passagem de Franklimberg pela presidência da entidade, entre 2017 e 2018. Mas, em abril de 2018, Rebello pediu exoneração da função comissionada após escândalos de corrupção.
À época, o coordenador apareceu em gravações – que ele mesmo afirma ter feito – de conversas com o então diretor de administração da Funai, Francisco José Nunes Ferreira. Os áudios indicam a tentativa de favorecer determinadas empresas de tecnologia em contratos com o órgão.
No trecho entregue por Rebello ao Tribunal de Contas da União (TCU) e à Polícia Federal (PF), Ferreira pede a ele que direcione as compras da fundação para determinadas companhias. Elas teriam relação com o ex- ministro da Casa Civil Eliseu Padilha (MDB) e com o presidente do partido, Romero Jucá (RR).
Por outro lado, Francisco José Nunes Ferreira acusa Rebello de “querer se vingar”. Ferreira diz que as gravações foram forjadas pelo servidor, após ele não ter sido autorizado a realizar dispensas de licitações em contratações emergenciais com empresas “amigas”.
O Metrópoles conversou com Bruno Rebello na última quinta-feira (14/3). Por telefone, ele contou que, ainda em 2017, procurou o presidente Franklimberg Ribeiro de Freitas para denunciar o diretor Francisco José Nunes Ferreira. Antes, ele teria realizado as gravações das conversas entre os dois “por se sentir na obrigação de denunciar as falcatruas”. Rebello ainda garante nunca ter tentado favorecer nenhuma empresa específica.
No entanto, documentos conseguidos pela reportagem mostram que, na época, o presidente Franklimberg Ribeiro de Freitas acatou a recomendação do coordenador-geral de tecnologia e contratou a companhia recomenda por ele, e não a que o diretor Francisco José Nunes Ferreira queria.
Volta ao cargo Apesar das denúncias de corrupção que levaram à saída de Francisco José Nunes Ferreira e do próprio coordenador-geral de tecnologia em 2018, Bruno Rebello voltou ao cargo. No início do mês, ele reassumiu o posto com apoio do presidente Franklimberg Ribeiro de Freitas.
Em nota, a Funai disse que “o retorno do servidor decorre do bom desempenho apresentado na sua gestão e do conhecimento dele sobre a fundação” e que “os atos apurados pelo TCU não apresentam, até a presente data, o apontamento do servidor em questão na pratica de qualquer ato ilícito”.
Ainda de acordo com o órgão, a volta de Bruno Rebello ao cargo não se deve à indicação de Franklimberg. “Não existe protecionismo do presidente da Funai para com qualquer servidor. O servidor em questão, da carreira do Ministério da Defesa, possui as competências requeridas para o exercício e atribuições do cargo”, completa a nota.
Já Bruno Rebello garante não ter nenhuma relação de amizade com o presidente da Funai. “Eu tenho conhecimento sobre o assunto e foi a pessoa que me substituiu durante o ano que estive longe quem me convidou para voltar”, explica. No entanto, apesar de não revelar o valor, ele informou que na fundação receberá um salário maior que no Ministério da Defesa, pois agora terá um cargo comissionado. A diferença seria de cerca de R$ 2 mil.
As investigações Ao Metrópoles, o TCU informou que há um processo em tramitação investigando as denúncias de corrupção na Funai. Segundo a Corte, “foram promovidas diligência e oitiva, que se encontram pendentes de análise”. “Só quando o processo for levado a plenário que teremos informações públicas”, completou o Tribunal.
A reportagem apurou ainda que tanto Bruno Rebello quanto o ex-diretor Francisco José Nunes Ferreira foram ouvidos pela PF, no entanto, ainda não há um processo instaurado sobre as denúncias levadas pelo coordenador-geral de tecnologia à corporação. Já Rebello garante que todos os depoimentos que prestou foram na condição de testemunha e que não haveria nenhuma investigação contra ele.
A Funai explica ainda que estão em curso três processos administrativos disciplinares instaurados pela corregedoria do órgão e que um deles possui o mesmo objeto das denuncias apresentadas no TCU. “Esta gestão não compactua com práticas que não sejam estritamente legais sendo dever de qualquer agente público denunciar possíveis atos suspeitos”, completa o órgão.
Jornalista: Larissa Rodrigues