O idioma auxilia na comunicação entre profissionais da saúde venezuelanos e abrigados.
Um caderno de anotações nas mãos e um sorriso no rosto. O coração, embora apertado, também está determinado a fazer o que for possível para ajudar a amenizar o sofrimento dos conterrâneos venezuelanos refugiados na capital boa-vistense. A paramédica Lenny Cordeiro, 39, é uma das voluntárias venezuelanas do projeto da Prefeitura de Boa Vista que busca reforçar os cuidados de prevenção de doenças dentro dos abrigos.
Lenny Cordeiro trabalhou na Cruz Vermelha na Venezuela antes de pedir refugio no Brasil. Ela está atuando como vigilante em saúde voluntária no abrigo localizado no bairro Nova Canaã. Especialista em desastres naturais, ela jamais imaginou que uma crise humanitária assolaria seu país.
“Deixei meu filho lá e espero em breve ter condições de trazê-lo para cá. Esse trabalho voluntário tem me ajudado a encarar os dias ociosos, pois ainda não tenho um emprego e preciso fazer algo, então ajudar meus irmãos venezuelanos é uma boa opção”, conta ela emocionada.
O projeto é piloto e está sendo implantado nos oito abrigos em Boa Vista, que possuem cerca de 3.700 refugiados. Ao todo, são 50 profissionais venezuelanos entre médicos, paramédicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, socorristas e educadores em saúde recrutados e capacitados pela prefeitura da capital para atuarem nos abrigos como agentes de vigilância e cuidado em saúde.
Para a prefeita de Boa Vista Teresa Surita, a estratégia inova e fortalece o enfrentamento da crise migratória. “Entendemos que essa é uma ação inovadora em questões migratórias. Vai além de uma perspectiva assistencial. Estamos potencializando a autoestima e autonomia dos migrantes para serem parte das possíveis soluções da crise em Boa Vista” afirma.
Seis dias após a capacitação dos voluntários venezuelanos realizada pelos profissionais da saúde da Prefeitura de Boa Vista, o trabalho de monitoramento de saúde dos refugiados está sendo realizado diariamente.
“Foram dois dias de treinamento sobre vigilância em saúde pública. Nossa equipe orientou os voluntários sobre os fluxos da rede de atendimento e o encaminhamento ao Sistema Único de Saúde. Esse projeto vai ajudar a otimizar os recursos na atenção à saúde e facilitar o acesso”, afirma o secretário municipal de saúde, Cláudio Galvão.
No abrigo Nova Canaã, que possui mais de 500 refugiados, a equipe conta com duas paramédicas, duas enfermeiras, um maqueiro e duas técnicas de enfermagem. Os voluntários já mapearam as condições de saúde de 19 pessoas e identificaram entre elas, duas grávidas em início de gestação e outras pessoas apresentado viroses, quadros de depressão e problemas de pele.
De acordo com a superintendente de Atenção Básica em exercício, Anna Carolina Santos, esse mapeamento vai subsidiar a Secretaria Municipal de Saúde com informações sobre o perfil epidemiológico de cada abrigo, além de nortear outras instituições que também atuem nos abrigos com ações de saúde.
“Com esse perfil consolidado, poderemos traçar as ações de saúde específicas para atender às demandas da população imigrante. Os voluntários são profissionais de saúde e têm uma visão técnica e podem ajudar a identificar os agravos de saúde. Além disso, o idioma auxilia na comunicação e o fato de eles serem também moradores do abrigo estabelece um vinculo com a população assistida”, destaca.
A Prefeitura de Boa Vista tem encarado um desafio que nasceu com a crise migratória ao atender todos os imigrantes na rede municipal de saúde sem distinções. Nos últimos cinco meses deste ano, já foram atendidos mais de 55 mil venezuelanos nas unidades básicas de saúde.
A jovem refugiada Elizania Zacaria, 30, descobriu a gravidez através de uma visita de rotina da enfermeira e voluntária Yegly Loaisa no abrigo onde vivem. Na próxima segunda-feira ela vai iniciar o acompanhamento pré-natal na unidade básica do Cambará.
A enfermeira Nurelvis Joselin, 39, atuou em salas de parto em uma maternidade na Venezuela. Hoje, ela se prepara para o processo de interiorização do Governo Federal e em breve estará recomeçando a vida em Brasília. Até lá, ela continua monitorando a situação de saúde das pessoas do abrigo.
“É difícil ver as pessoas passando fome, sem perspectiva. Nosso país vive uma crise econômica e social. Estamos todos aqui fugindo da crise, mas posso dizer que o dinheiro não é tudo. O que eu posso fazer hoje é ajudar as pessoas através da minha profissão. Não tenho dinheiro, mas um abraço e uma palavra de conforto estarão sempre comigo”, destaca.
Por Secretaria Municipal de Comunicação – SEMUC
