Em dia de reunião com Temer, Roberto Azevêdo afirma que o país vive turbulências em todas as áreas
O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo, disse nesta segunda-feira que o Brasil não vai se recuperar da recessão econômica “da noite para o dia”. Azevêdo visitou o presidente da República interino, Michel Temer, no Palácio do Planalto, em Brasília. Questionado sobre a indefinição política do país enquanto o Congresso não conclui o processo de impeachment , ele afirmou que a “turbulência” ocorre em todas as frentes.
“Não é um momento fácil para o país, é um momento de turbulência em todas as frentes, em todas as áreas. Na área econômica, em particular, a recessão não é pequena, não se pode ignorar a profundidade e a importância disso. Acho que ninguém no Brasil, muito menos no governo, ignora essa realidade, essa situação, e estão todos trabalhando para reverter isso no mais curto prazo possível. Mas é um processo que não é imediato, que não vai acontecer da noite para o dia”, disse Azevêdo.
O diretor da OMC disse que ele e o ministro das Relações Exteriores, José Serra, têm visão alinhada sobre o posicionamento do país nas negociações internacionais e que eles “não têm discrepância e estão perfeitamente alinhados”. Azevêdo e o tucano devem se reunir nesta terça-feira.
“Nós falamos a mesma coisa. O Brasil tem que procurar avançar no comércio internacional, em abertura de mercados, em qualquer via que permita que isso aconteça”, disse. “Não resta dúvida de que na área de abertura de mercados, na OMC, a coisa não avançou muito, sobretudo no contexto da rodada de Doha. E é mais fácil você avançar em abertura de mercado na área bilateral do que na multilateral, não tem a menor dúvida e nunca discordamos disso. O que não significa que isso vai abandonar a OMC, que tem um marco regulatório muito importante. O único lugar que se pode negociar subsídios é na OMC.”
Em Paris, na sede da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico], Serra afirmou que o país deveria “buscar novos caminhos” frente aos poucos avanços no âmbito da OMC. Em seu discurso de posse no Itamaraty, Serra pregou novas diretrizes para atuação da política externa brasileira, entre elas, um foco maior no comércio bilateral.
“O Brasil não mais restringirá sua liberdade e atitude de iniciativa por uma adesão exclusiva e paralisadora aos esforços multilaterais no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), como aconteceu desde a década passada em detrimento dos interesses do país. Não há dúvida de que as negociações multilaterais da OMC são as únicas que poderiam efetivamente corrigir as distorções sistêmicas relevantes como as que afetam o comércio de produtos agrícolas. Mas essas negociações não vêm prosperando com a celeridade e a relevância necessárias, e o Brasil, agarrado com exclusividade a elas, mantém-se à margem da multiplicação de acordos bilaterais de livre comércio.”
FONTE: VEJA