As fortes chuvas em Roraima tem deixado várias estradas intrefagáveis nas áreas rurais de Uiramutã, Pacaraima e Normandia, ao Norte do estado. Até esta segunda-feira (24), as prefeituras das regiões estimam que há 93 comunidades indígenas com dificuldades de acesso por terra devido às cheias dos rios.
Nessas localidades a situação é considerada crítica e algumas aldeias estão completamente ilhadas. Os prefeitos das cidades e a Fundação Nacional do Índio (Funai) elaboraram nesta segunda um documento com pedido de apoio federal.
As preocupações dos gestores é em relação ao suporte de saúde às localidades que está prejudicado desde o fechamento da única empresa aérea que prestava o serviço no estado.
O município mais castigado é Uiramutã, distante 280 Km de Boa Vista, onde há, proporcionalmente, a maior população indígena do país. Com as constantes chuvas, várias pontes transbordaram, bueiros se romperam e há trechos intrafegáveis devido ao número de atoleiros.
De acordo com o prefeito da região, Dedel Araújo (PP), são 30 comunidades isoladas e 30 com dificuldades de acesso, afetando 795 famílias das etnias Macuxi, Ingarikó e Patamona.
“Tem comunidades que não dá para chegar nem a cavalo, pois os igarapés estão cheio e alguns bueiros romperam com as chuvas. Precisamos de suporte para deixarmos alimentos às famílias”, disse. Há dois meses os rios Uailã e Maú encheram repentinamente e 936 índios foram afetados por enxurradas. À época, Dedel Araújo decretou situação de emergência, mas, segundo ele, até agora o governo federal não enviou ajuda. Em junho, o município voltou a ficar em alerta por causa das chuvas. “Nossa salvação tem sido o governo do estado. Mas a questão é que depois que a empresa aérea parou de ir para lá temos enfretado dificuldade para socorrer quem está doente. Precisamos que o governo federal veja com urgência uma empresa para voltar a operar”, disse. Segundo ele, desde que o serviço aéreo foi encerrado, cinco indígenas morreram por não terem como ser transferidos para hospitais em Boa Vista. “Quando as águas baixam, a Sesau [Secretaria Estadual de Saúde] vai para ajudar, mas se chove, fica sem condições. É muita água”, reforçou. O prefeito calcula que há 4.567 pessoas prejudicadas.
Pacaraima e Normandia
Em Pacaraima, segundo o prefeito Juliano Torquato (PRB), há nove comunidades indígenas ilhadas. Todas ficam em áreas de lavrado, a cerca de 150 Km da sede do município, e entre os rios Surumu e Contão.
“Hoje nós temos Pato, Roça, Lagoa, Maruá, Xiriri, Carangueijo, Monte Cristal, Perdiz e Tigre sem acesso. Elas ficam distantes e às margens dos dois grandes rios. Devido a extensão de água elas estão ilhadas e fica inviável o acesso por terra”, disse Torquato.
Embora as nove comunidades tenham sido afetadas, o prefeito disse que nenhuma família precisou sair de casa. Nesse caso, a preocupação maior é em relação a alimentação. As chuvas alagaram plantações de milho e mandioca.
“Temos de enviar mantimentos, mas isso só será possível com uma aeronave”, reforçou o prefeito, acrescentando que o município não tem dinheiro e ele deve decretar emergência.
A estimativa do prefeito de Normandia, Gute Brasil, é que o acesso terreste esteja prejudicado em 24 comunidades indígenas.
Assim como nos outros municípios, as chuvas afetaram também as pequenas produções dos indígenas e o envio de cesta básica por terra às localidades está inviável.
“Tem lugar que só chega a pé, a cavalo ou de canoa. A gente ajuda como pode, mas sabemos que se o inverno [período de chuvas] continuar rigoroso, teremos sério problemas como o isolamento total, por exemplo”.
Funai estuda contratação emergencial de empresa aérea
O coordenador da Funai em Roraima, Armando Neto, disse que pretende solicititar do governo federal a contratação emergencial de uma empresa aérea para atender os indígenas. O contato deve ser feito ainda esta semana.
“Nossa preocupação é resolver esses problemas de acesso aos três municípios. Tem região que não há como chegar nem por barco ou carro, só aéreo. A questão da saúde é prioritária, principalmente porque já tiveram mortes. Por isso, vamos verificar junto ao governo federal a possibilidade de chamar o segundo colocado para prestar o serviço [de transporte aéro] ou um pregão emergencial para não ficarmos desassisitdos”, informou Neto.
Por Valéria Oliveira, G1 RR