Proibição de funcionamento provoca queda no faturamento e estabelecimentos chegam a demitir funcionários ou negociar contratos. Por outro lado, franquia tenta driblar a crise

Proibidas de funcionar por causa da pandemia do coronavírus, as academias de Boa Vista têm vivido situações que vão de prejuízos, demissões ao risco de falência.
Em uma academia do bairro Centenário, na zona Oeste, o proprietário Daniel Trindade costuma ter gasto mensal de R$ 17 mil. O valor agora é um prejuízo para ele, pois sem o dinheiro das mensalidades, precisará usar o que tem na reserva para manter gastos como aluguel, energia e parcelas de equipamentos.
Uma das primeiras medidas do empresário foi demitir seis educadores físicos, quatro estagiários e cinco professores de artes marciais.
– Se continuar assim, não aguento mais um mês. Vou precisar fechar a academia, esperar acabar essa crise e vendê-la por um preço de banana. Infelizmente essa é a realidade – declarou Trindade.
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A proibição é prevista no decreto da Prefeitura da capital, que declarou situação de emergência na saúde pública do município, por causa da Covid-19. Quem descumpri-lo, pode ser advertido e até ter a licença de funcionamento cassada.
Segundo o último boletim da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), Roraima registra 164 casos de coronavírus. Desde o começo da crise, a Prefeitura flexibilizou a abertura do comércio, da indústria e dos serviços, mas não incluiu as academias. O último decreto do município liberou hotéis, lavanderias, obras e produção de alimentos.
– Penso que tudo é bom senso. Apenas isso. Tomar os cuidados necessários. Isolar as pessoas do grupo de risco. Forçar na higienização. As regras de distanciamento. Isso que precisa. Aí ela mandou foi fechar e não deu qualquer alternativa. Meu Deus! Vários decretos saíram e em todos fomos esquecidos – criticou Trindade.
Enquanto não há previsão para retorno, o centro de treinamento do empresário Osvaldo Barros negocia a manutenção do quadro de funcionários, mesmo sem receber o dinheiro das mensalidades. Ele crê que o risco de falência é real.
– Mais 15 dias parados, vamos todos à falência – avaliou.
Para Barros, a atividade física é fundamental nesta época de pandemia.
– A atividade física é fundamental pra você ter uma imunidade melhor, o corpo mais preparado pra suportar vários tipos de doença. […] Tem condições sim de atender determinado número de pessoas por horário. Ter uma academia, como eu tenho uma de 240 metros quadrados, atender cinco pessoas por horário, dá tranquilo. Você entra numa loteria, num banco, supermercado, têm pessoas coladas no corpo. Por que academia não pode abrir? – questiona.
O pedido dos empresários pela reabertura das academias em Boa Vista foi formalizado em um requerimento que tramita na Câmara Municipal de Boa Vista. O documento sugere o funcionamento das academias com atendimento agendado e número de alunos limitado, dependendo do tamanho do estabelecimento. Ainda não há previsão para o pedido ser votado – ele só segue ao Executivo caso seja aprovado pelo Legislativo municipal.
Ao GloboEsporte.com, a Prefeitura disse em nota (leia a íntegra abaixo) que toma medidas baseadas nas recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e a prioridade absoluta é salvar vidas. Justificou ainda que o risco de contaminação “aumenta muito” quando o exercício físico é feito junto a outras pessoas, com os mesmos equipamentos e em lugares fechados. Por fim, o Executivo garantiu que, conforme a evolução da situação, irá flexibilizar outros segmentos.
Franquia congela mensalidades, mantém funcionários e faz lives
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Franquia de multinacional em Boa Vista está fechada — Foto: Divulgação
A realidade é bem diferente nas empresas multinacionais do ramo. Mesmo sem faturamento desde o fechamento em 19 de março, a franquia local da maior rede de academias da América Latina manteve os funcionários com salários e vales transporte e refeição, e congelou as mensalidades dos alunos das unidades disponíveis nos shoppings de Boa Vista.
Com isso, professores de Educação Física fazem lives diárias nas redes sociais da empresa, com aulas de movimentos funcionais, musculação e dança. A medida manteve a maioria dos alunos.
– A quantidade de alunos que perguntaram ou quiseram cancelar a mensalidade é irrisória: não chegou a 20 nessa paralisação. Representa 0,01%. É muito pouco os que procuraram cancelamento – revelou o representante regional da franquia, Odemir de Araújo.
Araújo reforçou que as medidas são por tempo indeterminado, mas admitiu o risco de a pandemia e as medidas de isolamento paralisarem totalmente as atividades da franquia.
– Nosso faturamento desde 19 de março foi absolutamento zero. Nós não pretendemos mandar ninguém embora, nós vamos manter todo o corpo de funcionários, que são diferenciados. São medidas para enquanto durar a pandemia, mas tudo tem um limite. Esperamos que se resolva o mais breve possível, porque também não podemos fazer isso indefinidamente – disse.
O que diz a Prefeitura
As medidas que a Prefeitura de Boa Vista vem tomando são baseadas primeiramente nas recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), e a prioridade absoluta é salvar vidas. A prefeitura publicou nesta quinta-feira, 16, novas regras para o funcionamento de algumas atividades da indústria, comércio e serviços durante esse período de instabilidade na saúde pública por conta do novo coronavírus (Covid-19).
Porém as academias não estão inclusas nessa nova flexibilização. O exercício físico feito junto à outras pessoas, com os mesmos equipamentos e em lugares fechados aumenta muito o risco de contaminação. A prefeitura trabalha com responsabilidade e, dentro das possibilidades, conforme a evolução da situação, iremos flexibilizar outros segmentos para que aos poucos Boa Vista possa voltar à normalidade.