Uma equipa de investigadores dos laboratórios Pfizer fez uma descoberta fascinante em 2015. Um dos medicamentos mais vendidos para a artrite reumatoide, o Enbrel, apresentava resultados positivos no combate ao Alzheimer, reduzindo os riscos desta doença em 65%.
A descoberta, segundo escreve o jornal “Washington Post”, veio depois de uma análise a milhares de reclamações de pedidos de seguro. No entanto, para comprovar a real eficácia deste medicamento no combate ao Alzheimer seria necessário um teste clínico financeiramente exigente.
Depois de várias discussões, os responsáveis pela Pfizer optaram por não desenvolver novos testes e não divulgaram os dados relacionados com o descoberta, confirmou a empresa ao jornal norte-americano.
“O Enbrel poderia potencialmente prevenir, tratar e retardar a doença de Alzheimer”, podia ler-se no documento a que o jornal teve acesso, um Power Point preparado para uma reunião com altos responsáveis da empresa, em fevereiro de 2018.
Ainda assim, especialistas do departamento de doenças inflamatórias e imunológicas pediram aos responsáveis da empresa para desenvolver testes clínicos com pacientes, que teriam um custo estimando de cerca de 71,2 milhões de euros.
Ao “Post”, fonte da empresa disse que depois de três anos de estudos internos, concluíram que a possibilidade de o Enbrel prevenir o Alzheimer era baixa porque o fármaco não alcança diretamente o tecido cerebral.
A decisão de não continuar com os testes foi puramente cientifica, garantiu um porta-voz da farmacêutica. Assim, a empresa optou por não publicar os resultados obtidos nesta investigação.
No entanto, outros investigadores contactados por aquele jornal norte-americano condenam a empresa por não ter tornado públicos os dados do trabalho, explicando que os mesmos poderiam ser usados por outros cientistas.
“Claro que eles deviam ter publicado”, respondeu, ao jornal, Rudolph E. Tanzi, especialista da Escola de Medicina da Universidade de Harvard e do Hospital Geral do Estado do Massachusetts .
Descobertas acidentais que se tornam casos de sucesso
Não é assim tão raro o caso de remédios pensados para um tipo de doença e que depois acabam por ser aplicados noutros problemas. O Viagra, curiosamente da farmacêutica Pfizer, foi concebido para tratar a hipertensão e hoje é um dos mais usados no combate à disfunção eréctil.
A diferença entre o Viagra e o Enbrel é que este último não está protegido com uma patente exclusiva, como estava o Viagra, o que reduz os incentivos para investigar outros medicamentos. Esta droga rendeu, só em 2018, mais de dois mil milhões de euros, mas agora enfrenta a concorrência dos genéricos.
O difícil trabalho na luta contra o Alzheimer
Os resultados dos trabalhos relacionados com o tratamento contra o Alzheimer têm sido frustrantes. Apesar dos milhões investidos, não há, até ao momento, qualquer produto que previna eficazmente o avanço desta doença neuro-degenerativa.
Mais de quatrocentos ensaios clínicos fracassaram desde que o último fármaco para a doença, que apenas trata sintomas e de forma temporal, fosse aprovado há mais de dez anos, explica o jornal “El País”.
Fonte:jn.pt