
“A governadora não quis me ouvir. Depois que Neudo se entregou à Justiça, eu disse a ela que, se não mudar o rumo do governo, ela vai passar por vicissitudes iguais às do marido”. Com voz mansa, pausada, recheada de frases fortes e palavras contundentes, Quartiero começa dizendo que “esse é um governo virtual , pois não tem ações; e espiritual, pois falta-lhe materialidade”. Mas não podia ser diferente, acrescenta: “Faltam técnicos, falta responsabilidade, falta compromisso”.
Empresário, agricultor, Paulo Cesar foi expulso de suas terras em 2010, quando da homologação das terras indígenas Raposa-Serra do Sol. Antes de deixar sua fazenda, em protesto, ele destruiu as benfeitorias que fez ao longo de anos – fato que repercutiu na imprensa nacional e lhe rendeu processos na Justiça.
Decepcionado, juntou máquinas e equipamentos, comprou terras no Pará e, hoje, tem 4 mil hectares de arroz plantados na ilha de Marajó.
Líder político, Paulo diz ter-se rendido a acordo para formar chapa com Suely Campos porque acreditava nas promessas feitas: austeridade, seriedade e valorização do empresariado local, entre outras coisas. “Tanto eu quanto os eleitores fomos enganados”, afirma.
Continua: “Antes mesmo das eleições, eles quiseram me tirar de tempo. Não cedi nem eles conseguiram. Quando vi aquele monte de sobrinhos, cunhados, primos, filhos e netos na solenidade de posse, pressenti que o orçamento do Estado tinha ido para o espaço”, relembra.
“Em seguida, ao colocarem o Hipérion [Oliveira] na equipe de transição, vi que não tinha lugar pra mim nesse governo, pois todos sabem o tanto que esse rapaz foi nocivo durante atos de demarcação e 0homologação dessas terras indígenas. Eu, produtor e ferrenho defensor do agronegócio, não poderia trabalhar ao lado de gente assim.
Quartiero diz que foi jogado pra escanteio, boicotado. Nomes que ele indicara para a vice-governadoria não eram aceitos, verbas para sua repartição não eram liberadas.
Napoleão do Lavrado
Mas, de quando, em quando, a governadora até chegou a mostrar desejo de trégua. Paulo conta que, certa vez, compareceu a reunião no gabinete da governadora. Lá, Neudo, com pose de Napoleão, ladeado por João Pizolatti e Verônica Caro – segundo ele, ocupantes de duas secretarias que não deveriam existir nem seus titulares mostram a que vieram – explanava seus sonhos de, com Guiana e Venezuela, transformar Roraima em potência mundial. “Caí fora. Vi que estava lidando com loucos”, explica Quartiero.
Com negócios no Pará, a família morando em Belém, desencantado com os rumos que a administração – ou falta de – tomou decisão de vender os bens que lhe restavam em Roraima, renunciar à vice-governadoria e mudar-se de vez para terras marajoaras. Recentes modificações havidas no cenário político e possível cassação da governadora, optou por dar um tempo.
“Se eu renunciasse agora, deixaria a impressão de covardia. Ao candidatar-me a vice-governador, assumi compromisso de substituir a chefe do Executivo em caso de necessidade ou do impedimento dela. Sei que o Estado se encontra num grande buraco e que administrá-lo a partir de agora traria grande desgaste político, pois, para vencer o caos, o governador só tem duas coisas a fazer: cortar despesas e pagar contas. Com isso, qualquer um que termine esse mandato teria grande desgaste político, favorecendo quaisquer outros candidatos”, analisa.
Paulo Cesar se diz pronto para assumir o governo e pagar o preço político que esse ato traria, mas que tem responsabilidade e compromisso com Roraima e com as pessoas que acreditam nele.
Escrito por Aroldo Pinheiro