A gravidez aconteceu cedo na vida da jovem Adrielle Castro, quando ela tinha apenas 16 anos de idade. Hoje, aos 19, se dedica aos cuidados com a pequena Isabella, de 1 ano e 4 meses, mas a maternidade precoce foi um susto e veio acompanhada de incertezas. “Eu não estava preparada. Pra mim era o fim do mundo. Não sabia como cuidar de uma criança!”, contou.
O suporte para encarar uma fase tão delicada, veio de onde ela menos esperava, na verdade, nem conhecia. Aos três meses de gravidez, Adrielle teve o primeiro contato com oFamília Que Acolhe (FQA), um programa desenvolvido pela Prefeitura de Boa Vista desde 2013. Trata-se de uma política pública integrada entre saúde, educação e social destinada aos cuidados com as crianças de famílias de baixa renda do município.
Ainda na gravidez, a adolescente começou a frequentar a Universidade do Bebê, uma das principais atividades desenvolvidas no FQA. Como o próprio nome sugere, o objetivo é ensinar mães e pais algumas dicas que facilitam no cuidado dos seus filhos, desde a gestação. As orientações são repassadas por profissionais das áreas envolvidas: médicos, enfermeiros, psicólogos, educadores, entre outros.
Os temas trabalhados abordam desde os cuidados com a alimentação durante a gravidez, a importância do pré-natal, passando pelo incentivo ao brincar, a leitura e as relações de afeto. Esses fatores contribuem para que as crianças alcancem o pleno potencial de desenvolvimento na fase conhecida como a primeira infância – da gestação até os seis anos. Esse período é apontado por pesquisadores como o mais importante para o desenvolvimento humano.
“Quando eu cheguei aqui, vi que não estava sozinha. Encontrei outras adolescentes na mesma situação que a minha. No Família Que Acolhe, eu recebi apoio, tirei dúvidas sobre amamentação, vacinas, fraldas… E o mais importante, é que aprendi a entender como funciona a cabeça de uma criança, que minha filha precisa do meu amor e da minha atenção para crescer bem. Eu sou uma mãe mais segura hoje e, isso vai influenciar no crescimento da Isabella ”, disse Adrielle.
Adrielle realmente não está sozinha. O programa Família Que Acolhe atende mais de seis mil mulheres, 1.051 têm menos de 19 anos. Elas frequentam as atividades da Universidade do Bebê em uma sala separada das demais. A iniciativa foi tomada com o objetivo de fazer as adolescentes se sentirem mais confortáveis e confiantes para compartilhar suas experiências sobre a maternidade.
“A gente percebeu que quando elas estavam na turma com mulheres mais velhas, sentiam vergonha de falar, perguntar, com medo de serem julgadas. Numa turma só com meninas de idades próximas, a gente nota que elas participam mais, colocam seus pontos de vista, tiram as dúvidas. Os encontros rendem mais, porque elas percebem que não estão sozinhas, que existem outras adolescentes que passam por uma situação parecida. Isso melhora até a autoestima delas”, explicou a psicóloga Elane Florêncio.
Um dos pontos reforçados nessa turma é o planejamento familiar. As adolescentes são orientadas a adotar formas de se prevenir de uma nova gravidez inesperada e de doenças sexualmente transmissíveis. Também são incentivadas a continuarem os estudos e fazerem planos para o futuro.
Gleide Rodrigues
FONTE: RORAIMA EM FOCO