Dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública revelam um aumento de mais de 2 mil crimes
A população roraimense vem sofrendo diariamente com a sensação crescente de insegurança em razão das ações de criminosos, fugas constantes dos presídios e o aumento dos casos de furtos e assaltos à mão armada. O problema se tornou ainda pior ao se observar a presença maior de jovens e menores infratores como os autores de pequenos delitos e crimes de maior profundidade, como assaltos e homicídios.
De acordo com os últimos dados do Setor de Estatística e Análise Criminal (Seac) da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp), a sociedade tem razão em se sentir temerosa. O relatório datado de junho deste ano revela um crescimento alarmante de jovens e menores de idade envolvidos no crime organizado em Roraima.
Somente nos primeiros cinco meses deste ano, foram registrados 2.540 casos envolvendo jovens e menores, do gênero masculino e feminino. O número é quase sete vezes maior do que o registrado em todo o ano de 2015, quando foram notificados 367 casos.
O documento especifica que os dados são referentes a diferentes categorias, entre crimes de ameaça, homicídio, lesão corporal, violação de domicílio, furto, roubo, porte de arma e uso, porte e tráfico de drogas. O crime que teve o maior crescimento foi de furto, com 42 casos em 2015 e 612 casos em 2016.
Em seguida estão os crimes de furtos em residência, com 24 casos no ano passado e 455 casos em 2016 e o crime de ameaça com 123 casos no ano passado e 482 nos primeiros meses deste ano. Os demais casos mais preocupantes são de roubo, com um aumento de 270 casos em comparação com o ano passado; 122 novos casos de furto de motocicleta e um aumento de mais 99 casos de furto a comércios.
Os números de Roraima são similares aos do restante do país, como observado nos últimos dados do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen) da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), de junho de 2014.
A parcela de jovens envolvidos no crime organizado chega a quase 60% do total da população carcerária. Desta totalidade, 31% são de jovens entre 18 e 24 anos e aumentando a classificação para jovens de 18 a 29 anos, a porcentagem chega a 56%, o que prevê a necessidade de instalação de medidas e implantação de políticas públicas que reduzam o envolvimento dos jovens na criminalidade. (P.C)
Falta de oportunidades de emprego pode influenciar envolvimento de jovens no crime organizado
Problemas como a falta de oportunidades de emprego, má formação educacional e a facilidade da entrada de drogas nas fronteiras podem ser considerados motivos para o aumento da criminalidade nessa faixa etária, afirma cientista política.
Conforme a coordenadora pedagógica do curso de Especialização em Segurança Pública e Cidadania da Universidade Federal de Roraima (UFRR), doutora em Ciência Política Geyza Pimentel, há uma série de problemas sociais que necessitam de solução para combater a busca dos jovens pelos delitos, além das peculiaridades existentes no Estado.
“Roraima ainda tem muitas especificidades, por exemplo, o problema sério de mercado de trabalho”, disse Geyza. “Por mais que você tenha salas de aula equipadas, se não houver uma perspectiva de trabalho futuramente, isso é algo que desestimula o aluno. E para o jovem é pior ainda, não tem perspectiva nenhuma estar terminando o Ensino Médio sem ter onde trabalhar”, exemplificou.
A especialista afirmou que a falta de uma renda fixa também influencia na especialização do jovem que procura por um curso técnico ou ensino superior. Segundo Geyza, as universidades públicas não são capazes de absorver o número de formandos do Ensino Médio e muitos não têm condições de custear um curso em uma faculdade privada.
“Até então nós tínhamos todo um governo que financiava o aluno com o Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) e com o Programa Universidade Para Todos (Prouni), então era mais fácil ter um número de jovens na universidade. Hoje nós temos uma redução gigantesca desse financiamento, o que reduz essa oportunidade”, afirmou a professora.
“Atrelado a tudo isso você vê um inchaço populacional que foi fomentado ao longo de alguns governos e esse inchaço é basicamente de pessoas desqualificadas. Então, a gente não tem uma qualificação suficiente para estar no mercado de trabalho. Prova disso é o Sistema Nacional de Emprego (Sine) que sempre tem um número considerável de vagas disponíveis. O problema é que as pessoas não têm qualificação suficiente para trabalhar nesses postos”, avaliou.
Para Geyza, se o jovem não tem uma perspectiva de estudo e de trabalho e se a família não tem condições de financiar uma faculdade particular e não tem uma perspectiva de trabalho depois disso, o crime acaba sendo uma saída mais rápida.
FRONTEIRAS SEM FISCALIZAÇÃO – Outro problema citado pela doutora em Ciência Política são as peculiaridades existentes no território do Estado, que abrange duas fronteiras internacionais, com a Venezuela e a Guiana e com os estados brasileiros do Amazonas e Pará.
Ao passo que medidas de fiscalização são implantadas nas vias principais de entrada de turistas e imigrantes, meios alternativos que podem contribuir para o aumento do tráfico de drogas e de pessoas.
“Nós temos fronteiras com uma facilidade imensa de entrada de drogas, fora a entrada de armas ilegais. Não tem fiscalização, não temos um contingente policial para fazer essas fiscalizações todas. Nós temos vários grupos armados que têm entrado em Boa Vista e que estão arregimentando os nossos jovens. Como não tem perspectiva e o dinheiro é fácil e rápido, o crime é a melhor saída”, disse.
Ainda assim, a especialista acredita que focar em medidas de melhoria da Segurança Pública não é a única maneira de solucionar a questão. “Aumentar o número de força policial e fazer concurso não é suficiente.
Tem que se pensar em políticas públicas para os determinados problemas que estão ocorrendo”, acredita.
Algumas destas medidas indicadas pela cientista política são a restruturação das escolas municipais e estaduais e um possível plano de vantagens para o investimento do empresariado em Roraima. “A Prefeitura que trabalha com Ensino Fundamental tem que dar uma boa base para que esses jovens saibam ler e escrever e que entrem no Ensino Médio com qualidade e o Governo tem que pensar que as escolas de Ensino Médio têm que ser melhor estruturadas, com condições para que esse jovem tenha uma qualificação boa”, disse Geyza.
Sobre o fortalecimento das empresas, a professora afirmou que um meio de sanar a questão seria a diminuição de impostos e dar melhores condições para que os empresários tenham a capacidade de absorver a mão de obra que está fora do mercado de trabalho.
“Há que se pensar em políticas públicas para atender essa população. Vale alimentação não é suficiente. O problema só vai ser resolvido quando você tiver pessoas qualificadas e trabalho para que eles sejam absorvidos, quando você tem essas duas coisas, você tem qualidade de vida e as pessoas podem sair da criminalidade”, afirmou.
GOVERNO – Questionado sobre quais as medidas que estavam sendo aplicadas para evitar a marginalização dos jovens, o Governo do Estado reforçou a execução de diversos programas sociais, dentre eles o projeto Cidadão do Futuro e o Rede Cidadania Esporte, que priorizam ações preventivas, com o objetivo de evitar e reduzir o índice de envolvimento de menores com a violência e a criminalidade.
De acordo com o Governo, os programas atingem as faixas etárias dos 12 até os 17 anos, com medidas de prevenção ao uso de drogas, combate à violência e resolução de conflitos, além de atividades recreativas de teatro, música, oficinas de grafite, palestras sobre planejamento do futuro e participação em times de futebol.
“Os projetos de prevenção primária evitam que crianças e adolescentes se envolvam na vida da violência e criminalidade, bem como minimizam os impactos sociais, contribuindo para a construção de paz social dentro das comunidades, pois é sabido que a prevenção é mais barata e menos traumática que a repressão”, informou em nota. (P.C)
FONTE: FOLHA WEB